Cacau: o novo aliado das agroflorestas
Questões ambientais influenciam diretamente na safra do Cacau, fruto típico da floresta amazônica que se adaptou à floresta tropical marfinense, possível de ser cultivado apenas nas regiões entre trópicos. Em abril do ano passado, porém, a ONU apontou que o aumento da derrubada de florestas para produção cacaueira contribuiu para a erosão do solo e para a destruição deste ecossistema fundamental na Costa do Marfim, comprometendo a floresta tropical marfinense a ponto de ser extinta até 2030. É neste cenário que iniciamos a busca de informações sobre a presença do cacau em agroflorestas.
A concentração da produção cacaueira em pequenas propriedades na costa marfinense é um fator crítico neste caso, que representa 70% da produção mundial de acordo com a Organização Internacional do Cacau. Em pequenas propriedades, aplicações das melhores práticas de agricultura sustentável e áreas de recuperação do solo como as agroflorestas são raramente consideradas devido à escassez de recursos financeiros e apoio técnico. O uso negligente das áreas produtivas afeta o solo criando um bioma pouco produtivo para as safras de cacau, provocando erosões, comprometendo a biodiversidade e consequentemente demandando maior derrubada de florestas para as plantações.
Ameaçar a floresta tropical marfinense apresenta um cenário crítico ambiental e sócio econômico: a exportação de Cacau garante grande parte da subsistência de milhares de produtores no Oeste da África. Para além do comprometimento das safras, afetar o bioma africano pode disparar uma crise na indústria cacaueira no mercado mundial onde demanda de cacau em ascensão é uma projeção real dado o aumento do consumo de seus diversos produtos derivados, além de novas aplicações que surgem em iniciativas de inovação.
Ao passo que na costa oeste da África existem alertas para extinção do ecossistema que permite a produção cacaueira, na América Latina, principalmente no Brasil e no Peru, o cenário é reverso. Empresas e indústrias estão se reunindo para investir agindo em favor do meio ambiente e do reflorestamento a partir de agroflorestas, nas quais o cacau é uma das árvores agentes principais.
A Fundação Mundial do Cacau (WFC) lançou uma iniciativa chamada CocoaAction, criando uma estratégia voluntária para as indústrias brasileiras em parceria com o setor público, e já trabalham em estratégias para colocar a sustentabilidade à frente do seguimento da produção cacaueira. Outras iniciativas como as do projeto Iniciativa20x20, realizados com êxito na região da amazônia peruana em Madre de Dios, tem servido de modelo para a implementação da nova produção brasileira, com foco em ajudar os médios e pequenos produtores. (Confira mais em: Tambopata-Bahuaja REDD+ e Agrofloresta e Aliança do Cacau do Peru.)
No Brasil, a concentração do plantio em pequenas propriedades também é realidade, representando 80% dos 70mil produtores que cultivam cacau em aproximadamente 700 mil hectares. No território brasileiro, a AIPC e controla 95% do cacau brasileiro, e há uma força da indústria e dos produtores brasileiros em avançar na liderança do cacau sustentável no mundo: há plantações que já usam técnicas de agrofloresta e apresentam excelentes resultados de produtividade, além de garantir a saúde do solo e dos dosséis das árvores do bioma local. Vale lembrar que para atingir este objetivo é preciso uma aliança consistente entre a esfera pública e privada, envolvendo prestadores de serviços, instituições financeiras, muito além das tomadas de decisão das indústrias brasileiras.